segunda-feira, 18 de abril de 2011

No coração financeiro



Oliver Stone é uma espécie de Michael Moore da ficção. Esquerdista assumido, é um crítico da política norte-americana desde os tempos em que ser do contra ainda não era moda nos Estados Unidos. Com algumas exceções, seus filmes sempre têm aquele viés político que às vezes faz a diferença, mas que em outras incomoda por fazer o espectador sentir uma tentativa de manipulação. ‘Wall Street – Poder e Cobiça’, de 1987, se tornou emblemático por mergulhar em um universo até então pouco inexplorado no cinema, o da bolsa de valores e dos tubarões do mercado financeiro. Digamos que era uma fábula anticapitalista com toques de incorreção política.
‘Wall Street’ acabou se tornando uma referência por ser um retrato da era yuppie e apresentar um anti-herói dessa geração, o inescrupuloso Gordon Gekko, vivido com maestria por Michael Douglas. A grave crise econômica que assolou o mundo inteiro há cerca de três anos foi o mote perfeito para que Oliver Stone ressuscitasse seu personagem e voltasse ao coração financeiro do mundo. Treze anos depois, ‘Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme’ já não tem o impacto do primeiro filme, mas tem seus méritos ao tentar mergulhar no epicentro do furacão que devastou boa parte da economia mundial e ainda faz alguns de seus ecos reverberarem planeta afora.
Preso ao final do primeiro filme por usar de informações confidenciais para enriquecer, Gekko (novamente vivido por Michael Douglas) deixa a prisão com status de celebridade. Fora do circuito financeiro, ganha a vida com palestras motivacionais e um livro sobre a experiência no mercado de valores. Mas o personagem central dessa vez é outro: Jacob (Shia LaBeouf), um promissor corretor que namora a filha de Gekko (Carey Mulligan). Ao se aproximar do futuro sogro, o rapaz se torna seu pupilo e vê a chance de catapultar sua carreira trabalhando para Bretton (Josh Brolin), que vem a ser o vilão da história.
Como se percebe, Gekko agora é um personagem secundário na narrativa, o que não diminui sua importância. Isso ilustra a preocupação evidenciada por Stone em sua nova empreitada, de evitar que se repetisse o que aconteceu com o primeiro ‘Wall Street’: ao invés de servir de anti-exemplo, consagrou como ídolo uma figura politicamente incorreta. Por isso, a preocupação em mostrar sua criatura regenerada, colocar como protagonista um jovem ambicioso, mas preocupado com uma boa causa (o meio ambiente), e definir claramente quem são os heróis e os vilões.
É justamente esse pragmatismo que tira um pouco da força de ‘Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme’. A boa narrativa é prejudicada pelo maniqueísmo que insiste em indicar onde estão os culpados pela bancarrota e os idealistas com suas doces intenções. Sendo bem direto, falta malícia, acidez, falta um pouco de canalhice. Mas, apesar disso e da trama familiar que às vezes emperra o bom andamento do filme, Stone conseguiu produzir um retrato interessante do mundo financeiro pré, durante e pós-crise. Ajuda-nos a enxergar um pouco melhor o que andam fazendo com nosso suado dinheirinho.

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