domingo, 24 de julho de 2011

Para turista ver



Brasil: carnaval, samba, mulheres, belezas naturais, enfim... o paraíso! Mesmo com a chamada globalização, essa ainda é a referência de nosso país para o restante do mundo, gostemos ou não. E se depender da animação ‘Rio’, concebida exclusivamente para a ‘cidade maravilhosa’, com uma carreira bem sucedida nos cinemas planeta afora, assim permanecerá. Não seria algo a incomodar se não fosse um fator limitador da produção, belíssima visualmente, mas que em termos de roteiro fica muito aquém de outras animações.
Há tempos que animação deixou de ser sinônimo de produção infantil, voltada apenas para entreter crianças e não incomodar os adultos que as acompanhavam. Hoje a tecnologia permite dar vida a recriações perfeitas da realidade ou a delírios inimagináveis para os desenhistas do passado. Ao mesmo tempo, roteiristas foram trabalhando com mais esmero em suas histórias. O resultado são produções brilhantes, como os divertidos ‘Shrek’ e ‘Toy Story’, ou os reflexivos ‘Wall-E’ e ‘Up – Altas Aventuras’.
‘Rio’ optou por se enquadrar no primeiro grupo, das produções com apelo mais infantil, protagonizadas por bichinhos falantes e simpáticos. Logo em sua abertura, uma batucada dá início a um número musical encenado por aves de diversas espécies em uma floresta carioca. Minutos depois, a pequena ararinha azul que assistia a tudo vai parar em uma gaiola e termina no estado de Minesota, nos Estados Unidos. Lá, é adotada pela garotinha Linda, ganha o nome de Blu e se torna seu companheiro inseparável.
Anos depois, Linda recebe a visita de um ornitólogo brasileiro, o qual informa que Blu é a última espécie masculina da arara azul. Ela é convencida a levá-lo ao Rio de Janeiro, onde irá se reproduzir em cativeiro com Jade, a arara feminina. Os dois são raptados por traficantes de aves e passam a se aventurar no Rio, junto com tucanos, macacos, um cachorro e pássaros das mais diferentes estirpes. Ah, claro, tudo isso em pleno carnaval carioca.
Dirigido por um brasileiro, Carlos Saldanha (de ‘A Era do Gelo’ 2 e 3 e referência no campo da animação), ‘Rio’ não deixa de repetir os estereótipos propagados mundo afora sobre o Brasil. Todos estão sambando pelas ruas, muitos fantasiados, o carnaval é o máximo e a alegria permanente. Mesmo a trilha sonora, que poderia ser um dos trunfos, se limita a repetir melodias chavões ou a insuportável ‘Mas Que Nada’, na versão de Sérgio Mendes (que, diga-se de passagem, colaborou com a trilha).
O que realmente impressiona é a recriação das paisagens cariocas. Com uma incrível riqueza de cores e detalhes, a equipe reproduz cenários famosos, como o Pão de Açúcar, o Corcovado, a floresta da Tijuca e as favelas cariocas. As sequências do voo das araras pelos céus da cidade e do desfile de carnaval são as mais exuberantes. Pena que o roteiro não acompanhe essa inventividade. A história não tem grandes sobressaltos, os personagens têm pouco carisma e as situações são as mais previsíveis. As crianças certamente vão se divertir, mas para quem procura um algo a mais, fica uma ponta de frustração.


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