domingo, 17 de julho de 2011

Viagem ao fundo do mar



Um dos maiores problemas de viver em uma cidade como Ponta Grossa é estar privado de certos prazeres únicos, restritos aos moradores dos grandes centros. Um filme como ‘Oceanos’, por exemplo. A nós, pobres ponta-grossenses, não causa nenhuma surpresa o fato de a produção ter passado longe dos cinemas, visto que possui um apelo bem inferior a outras mais comerciais e que, mesmo assim, jamais chegaram por aqui. Previsível, mas não justo. Conformarmo-nos em ver uma obra como essa na tela pequena, sem as dimensões da sala de cinema, é um pecado sem tamanho.
‘Oceanos’ é um documentário francês que, como diz o título, retrata a vida marinha do planeta. Mas antes que você torça o nariz e já pense em uma edição estendida do Globo Repórter, asseguro: é algo muito mais fascinante. Os diretores franceses Jacques Perrin e Jacques Cluzaud passaram quatro anos filmando todos os oceanos do planeta com o que mais avançado existe em tecnologia para esse tipo de registro. O resultado é um conjunto de imagens capazes de surpreender até quem não nutre simpatia pelo gênero.
Não se trata de um documentário didático, que pretende explicar que tipo de vida existe nos mares, onde se encontram tais espécies, que fazem ou como se reproduzem. A ideia dos documentaristas foi explorar essencialmente a estética, sem dar margem para qualquer tipo de narrativa. Algumas frases e citações entrecortam as sequências, que poupam o espectador até mesmo de dados sobre onde estão ou que tipo de animais aparecem na tela. Quando não é o som ambiente, o acompanhamento fica a cargo da vibrante trilha sonora de Bruno Coulais.
Câmeras especiais acompanham de perto tudo o que acontece do céu onde voam aves marinhas até as profundezas, onde se encontram espécies com as formas mais inusitadas. Graças a essa tecnologia e ao empenho da equipe, o espectador consegue acompanhar momentos únicos, como o mergulho das gaivotas em busca de alimentos, a dança de cardumes gigantescos de peixes, o ataque de orcas a leões marinhos ou a movimentação avassaladora de caranguejos no fundo do mar. Não raro, os diretores imprimem a essas situações, típicas da natureza, tensão e dramaticidade equiparáveis a de uma produção hollywoodiana.
Em certa medida, lembra o trabalho realizado em ‘Microcosmos’, de 1996, pelo mesmo Jacques Perin. Nessa produção, microcâmeras registraram a vida de insetos, vistos em seus mínimos detalhes e em cenas que se assemelhavam à realidade humana. A dupla também foi responsável por outro documentário fascinante, ‘Migração Alada’, de 2001, o qual focalizava a trajetória das aves.  Nesse último filme, porém, pesa sobre os diretores a acusação de ter manipulado o comportamento de alguns animais para fazer suas imagens. 
É de se lamentar apenas que ‘Oceanos’ não possa ter sido visto na tela grande, o que o tornaria ainda mais encantador. Mesmo nas limitações de uma televisão (se você tiver uma maior e um blu-ray, melhor ainda), é uma obra que merece ser apreciada, quem sabe para também aprendermos a cuidar melhor desse mundo judiado.


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