segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Romantismo em conta-gotas


Ao contrário de uma parcela expressiva do público que frequenta cinemas e videolocadoras, tenho aversão a comédias românticas. A fórmula batida, os roteiros mais que previsíveis e personagens estereotipados fazem com que passe longe dos filmes do gênero. Mas, como para toda regra existe exceção, há alguns casos que merecem um pouco de atenção. O interesse pela capital francesa me levou a assistir a ‘2 Dias em Paris’, que não chega a ser um exemplar típico de comédia romântica, mas tem lá seus chavões. O resultado não é nada brilhante, mas garante um pouco de diversão, em especial àqueles que têm algum tipo de relação com a cultura francesa.
O longa é o primeiro dirigido pela atriz francesa Julie Delpy, cujo papel mais marcante foi a parceria com Ethan Hawke nos (também) românticos ‘Antes do Amanhecer’ e ‘Antes do Pôr do Sol’. Mais do que dirigir, ela escreveu e estrelou o filme, que se mostra bastante personalista. Nascida na França e posteriormente alçada ao staff hollywoodiano, a atriz sustenta sua história nas peculiaridades da cultura francesa, suas diferenças e estranhezas com o modo de viver norte-americano.
Julie é Marion, fotógrafa francesa que há dois anos mantém um relacionamento com Jack (Adam Goldberg), decorador nova-iorquino hipocondríaco. Após uma viagem de férias na Itália, os dois decidem estender a estadia européia em Paris, onde ela irá rever a família e alguns amigos. Os dois dias que se seguem são marcados pela inusitada relação de Jack com os pais da garota, o encontro com os ex-namorados e o choque com alguns costumes franceses. Enfim, um conjunto de fatores que vai fazer o casal repensar e refletir sobre o relacionamento.
Como se percebe, a estrutura da narrativa é basicamente a mesma de centenas de filmes espalhados pelas prateleiras das videolocadoras ou exibidos diariamente na televisão. O que existe de diferente em ‘2 Dias em Paris’ é um estranho senso de humor, mais sexual, menos escrachado e talvez mais realista. Não há uma seqüência de gafes ou piadas com homossexuais, mas um riso contido, que parece estar sempre diluído em melancolia. Na maioria das vezes, os desencontros risíveis do casal soam mais como subterfúgios para esconder a fragilidade do relacionamento, apenas escamoteando uma realidade complexa, que muito em breve virá à tona.
Como nativa, Julie Delpy se sente muito à vontade para fazer graça com algumas características de seus pares, como a obsessão por sexo, a xenofobia e a mística parisiense. São essas situações que rendem os momentos mais divertidos do filme, sem o exagero habitual de um estrangeiro ou o deslumbramento de um ‘Paris, te Amo’ (filme coletivo que homenageia a capital francesa).
No fim das contas, ‘2 Dias em Paris’ tem muito mais de romântico que de comédia. Os diálogos sarcásticos e cheios de banalidades por muitas vezes escondem o famoso ‘discutir a relação’ cotidiano do qual nem damos conta. É previsível, em alguns momentos chega a ser bobo, mas não é raso como a maioria dos exemplares do gênero água com açúcar. No caso, mais água e menos açúcar.

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