Existem nitidamente dois tipos de filmes que se produz atualmente no Brasil: os direcionados ao grande público e os feitos para festivais e críticos. Desde que o cinema nacional retomou sua proficuidade, há pouco mais de uma década, poucos foram os exemplares que conseguiram conciliar essas duas vertentes. Isso porque diretores e produtores parecem enxergar duas plateias distintas, às vezes subestimando o público ou superestimando a crítica. O resultado é um sem número de filmes pouco vistos, de apreciação limitada e que geralmente terminam com a estranha sensação de que, apesar de não serem produções ruins, poderiam ter sido bem melhores.
Dois desses exemplares podem ser conferidos em DVD (o que nem sempre é facilmente possível, ainda mais se tratando de Ponta Grossa): ‘Se Nada Mais Der Certo’, de José Eduardo Belmonte, e ‘Nossa Vida Não Cabe Num Opala’, de Reinaldo Pinheiro. Duas produções mais ou menos da mesma época (2009), que tiveram trajetórias similares: uma carreira bem sucedida em festivais e passagem relâmpago pelos cinemas, sob a vista de poucos espectadores. Mais do que isso, ambos se enquadram em uma espécie de subgênero nacional: o cinema urbano, focado na marginalidade e que concentra suas forças nos personagens.
‘Se Nada Mais Der Certo’ é a história do triângulo formado por Leo (Cauã Reymond), um jornalista quebrado, Wilson (João Miguel), um taxista solitário, e Marcin (Caroline Abras), uma figura ambígua (seria um garoto ou uma garota?) a perambular sem destino. Sem grandes perspectivas, os três se unem para um golpe e logo enveredam pelo crime.
Em ‘Nossa Vida Cabe Num Opala’, os protagonistas são quatro irmãos: Monk (Leonardo Medeiros), o mais velho que vive com uma garrafa à mão, Lupa (Milhem Cortaz), um ladrão de carros boçal, Slide (Gabriel Pinheiro), skatista invocado, e Magali (Maria Manoela), música de churrascaria. Os quatro acabaram de perder o pai (Paulo César Pereio), que aparece para conversar com eles enquanto suas vidas vão tomando rumos cada vez mais tortuosos.
Ambos os filmes seguem uma linha de cinema independente, com pontos positivos e negativos. Um pouco mais digerível, ‘Se Nada Mais Der Certo’ até funciona bem, porém, o roteiro peca por sua irregularidade. Seus personagens são fortes, as interpretações consistentes, mas quando parece que a narrativa está prestes a deslanchar, se fragmenta e perde força. A edição frenética e o uso excessivo da câmera na mão são outros fatores que incomodam em alguns momentos. Talvez se o diretor não quisesse se mostrar tão ousado o resultado seria mais interessante.
Mais denso e incômodo, ‘Nossa Vida Não Cabe Num Opala’ também é mais problemático. Adaptado de uma peça teatral de Mário Bortolotto, o filme não consegue transmitir a mesma força nos diálogos, tornando-se pesado e cansativo. Apesar de reunir um bom elenco, as atuações são fracas e dissonantes entre si. São dois filmes que parecem tropeçar em suas pretensões, mas ainda assim, merecem respeito por fugir ao comodismo de grande parte da produção nacional.