quinta-feira, 24 de março de 2011

Paixão pela sétima arte



Ex-diretor de videoclipes, o francês Michel Gondry ganhou o mundo ao mostrar que não manjava apenas de estética. Com ‘Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças’, comprovou que entendia, e muito, de roteiros, fazendo um dos melhores filmes da década atual. Tamanho talento alimentou uma expectativa exacerbada em seus fãs, muitos dos quais ainda não puderam avaliar seu trabalho seguinte, ‘Sonhando Acordado’ (inexplicavelmente exibido no Brasil apenas nas mostras de São Paulo e Rio de Janeiro). A chance vem agora com ‘Rebobine, Por Favor’, que deixa uma pontinha de frustração, mas não deixa de ser um trabalho interessante, em especial para os amantes da sétima arte.
A premissa é ótima. Mike (Mos Def) é funcionário de um tipo de videolocadora rara nos dias atuais, que trabalha apenas com fitas VHS. Ameaçado de despejo, o proprietário da loja, Sr. Fletcher (Danny Glover), finge sair de viagem para observar os concorrentes e elaborar um projeto de modernização. O melhor amigo de Mike é Jerry (Jack Black), que em uma experiência bisonha acaba ficando magnetizado. O efeito é catastrófico: ao passar pela videolocadora, apaga todas as fitas da loja.
Quando um dos clientes mais fiéis do estabelecimento, a sra. Falewicz (Mia Farrow, que há um bom tempo não era vista nas telas), pede uma cópia de ‘Os Caça Fantasmas’, a dupla se vê obrigada a encontrar uma solução. Que não poderia ser mais surreal: com uma câmera na mão, eles resolvem simplesmente recriar o filme de maneira caseira. Conforme os pedidos dos fregueses, eles vão filmando versões ‘suecadas’ (termo criado para definir esse tipo de produção) de sucessos como ‘A Hora do Rush 2’, ‘Robocop’ e ‘Conduzindo Miss Daisy’. A ideia vira um sucesso que muda o rumo do negócio, mas terá seus percalços.
Como dito alguns parágrafos acima, a ideia inicial é ótima e rende momentos divertidíssimos. As filmagens improvisadas, com figurinos bizarros e efeitos tosquíssimos, são o que há de melhor no filme. Cinéfilos vão se deliciar com as versões baratas de cenas famosas, que vão de documentários como ‘Quando Éramos Reis’ a animações como ‘O Rei Leão’. Apesar de não ter Jack Black, um dos melhores comediantes da atualidade, em seus momentos mais brilhantes, a dupla principal consegue segurar as pontas.
O que estranhamente não consegue segurar as pontas é o roteiro de Michel Gondry, que no início se mostra arrastado e após uma reviravolta na história perde o fôlego. A explicação talvez seja de que, apesar de interessante, a ideia principal não rende suficientemente para um longa metragem. Tirando as refilmagens e mais algumas piadas com o universo fílmico, sobra pouca coisa realmente criativa em ‘Rebobine Por Favor’.
Pouco de quem se esperava muito mais, mas o suficiente para divertir aqueles que amam o cinema. Afinal, o que Gondry faz aqui é uma homenagem àqueles que são apaixonados pela sétima arte e que filmam acima de tudo com a paixão em detrimento da técnica. O final à la ‘Cinema Paradiso’ não deixa de ser tocante, deixando uma reverência a certo tipo de cinema cada vez mais raro.

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